Se
há algo que ninguém gosta naturalmente de sentir é dor. Sabe quando você sente aquela
dor de dente ou de cabeça? Bom, pense em outro tipo de dor agora, algo que não tem
relação com seu corpo, uma dor na alma, uma angústia no coração.
Sabe quando você acorda e não tem vontade
de se levantar, então pensa “lá vem mais um dia...”. Você busca forças onde não
há mais esperança e chega a conclusão de que deve desistir de algo, deixar algumas
coisas para trás, seguir outro rumo, afinal, sua dor é a maior do mundo e ninguém
sabe o que você está passando, só você.
O nosso problema é sempre o maior, ninguém
nos entende, pois não estão na nossa pele. Mas vamos fazer um exercício de inverter
as coisas agora. Imaginemos por um instante que podemos trocar de lugar com outra
pessoa. Faremos que ela sinta o que nós sentimos, mas também sentiremos a dor dela.
Pronto? Vamos tentar? Mas sente-se, talvez não seja uma experiência agradável.
Imaginemos alguém que não tem casa, não
tem onde dormir, nem o que comer, apenas algumas roupas velhas para vestir e nem
sequer tem um desodorante pra disfarçar o mal cheiro pela falta de banho. Agora
imagine alguém que não tem família, não tem ninguém pra conversar, está rodeado
de pessoas na escola ou no trabalho, e até mesmo em casa, mas é como se fosse invisível,
ninguém o percebe, ninguém se importa. E por último, imagine um idoso que foi abandonado
pelos filhos, e vive agora pelos cantos em uma casa de repouso qualquer, ao lado
de um orfanato onde crianças e adolescentes aguardam todos os dias que alguém apareça
para lhes dar um lar, ou simplesmente fazer uma visita.
Escolha qualquer um dos exemplos citados
e troque de lugar com ele. Tente sentir a dor que eles sentem. Muitos deles se alimentam
de uma esperança por algo que talvez nunca chegue. Porque essa esperança somos nós.
Mas nós estamos muito ocupados com nosso cotidiano, pois temos que acordar cedo
pra ir trabalhar enquanto muitos não tem emprego, estamos de saco cheio porque temos
que fazer compras enquanto muitos não têm o que comer, ou estamos preocupados com
a organização da festa de aniversário de algum parente enquanto muitos nem se lembram
mais da data em que nasceram.
Pois é, essa é a dor do mundo. Você a
sente? Ou sente apenas a sua dor? Há uma virtude chamada “misericórdia” que muitos
cristãos não sabem o que é. Dar uma oferta na igreja ou contribuir com alimentos
parece ser o bastante, mas quem de nós já sentiu a dor do outro? Será que conseguimos
perceber que há outra dor além da nossa que nós fingimos não ver? Por que se os
olhos não veem o coração não sente...
Enquanto sentirmos apenas a nossa dor,
não estamos preparados para sermos cristãos, pois seguir o exemplo de Cristo implica
em se compadecer pelo próximo. Será que temos amado nosso próximo como a nós mesmos?
Sentimos a dor dele? Estamos fazendo algo para que essa dor seja amenizada? Fica
aqui essa reflexão: se sentimos apenas a nossa dor, e não a dor do mundo, está na
hora de revermos nossos principais conceitos de amor pela vida, não apenas pela
nossa, mas também pela vida do próximo, afinal esse é o segundo mandamento, lembra?