Parte
1
Uma das maiores questões que
atormentam a cabeça do jovem cristão é sobre “ministério”. Que na verdade é a
mesma luta de qualquer outro jovem na busca de identidade. A diferença aqui
parece ser a sacralização do ministério competindo com a simples busca de
conhecer-se e realizar-se.
Ouvimos tanto sobre o “ide” (Mc.
16.16), mas quem quer ser missionário e levar o evangelho lá na África? Será
que algum de nós conseguiria abrir mão dos recursos tecnológicos modernos? E
não estou me referindo a telefonia celular, mas a coisas simples como energia
elétrica e saneamento básico.
Dizem que jovens são preguiçosos, e
honestamente, muitas vezes vejo mais vitalidade nos meus pais e nos meus
sogros, do que em gente que tem idade pra ser neto deles. Ser jovem tem mais a
ver com estado de espírito do que com idade. O jovem é a força, mas sem a
experiência, é a ousadia, mas sem tanto compromisso. Será que é apenas isso mesmo?
Falta objetividade na carreira do
jovem, mas isso não é uma culpa direta dele. Nosso sistema de educação é uma
vergonha, a geração passada não preparou uma estrutura para a atual, e tem sido
assim há muitos séculos. O problema não é de hoje, talvez devêssemos voltar ao
início e compreender melhor algumas coisas.
O que é o ministério em si? Logo
pensamos nos dons e espiritualizamos tudo. Não que eu ignore essa parte mais
“mística”, mas talvez a gente exagere um pouco em alguns conceitos. Um exemplo:
quem tem o dom da palavra será pastor. Mas quantos fora da igreja que também
tem o “dom da palavra”, mas não objetivam o pastorado, pois nem ao menos são
cristãos? Outros exemplos: há muitas pessoas fora da igreja que possuem o “dom
de adquirir riquezas”, e até mesmo de “curar”... (penso nos médicos). Que dizer
então dos “mestres”?
Quem sabe a problemática do
ministério jovem seja a falta de compreensão de sua própria identidade.
Descobrir-se está para todos, e não é apenas uma questão ministerial, é
encontrar o sentido da própria vida. Ministério vem de ministerium do latim, significa serviço, trabalho, sacerdócio.
Então pensemos dessa maneira, que
ministério é antes de tudo “servir”, se usaremos dons espirituais,
sobrenaturais ou não, isso já é outro assunto. Pensando em serviço, vamos ao
básico. A melhor forma de servir é fazendo o que fazemos de melhor
naturalmente. Antes de irmos até a África levar o evangelho, talvez seja mais
fácil evangelizar um vizinho ou um colega de trabalho, ou alguém dentro da
nossa própria casa.
A melhor forma de servir é sendo bom
ao nosso próximo, desejando-lhe o bem, expressando o amor. São Francisco de
Assis é autor de uma frase célebre, algo sobre “pregar o evangelho, e se
necessário usar palavras.” Ou seja, não está no muito falar, mas no simples
agir. O ministério jovem deve focar nisso, em sua energia, sua ousadia, agindo,
sendo, e pra isso é preciso conhecer-se. Continuaremos esse assunto no próximo
artigo.
Parte
2
Conforme prometi na edição passada,
continuaremos o assunto sobre o ministério jovem. Só pra recapitular, vimos que
ministério significa servir, e pra servir, devemos fazer o que sabemos, mas
para isso é necessário que conheçamos melhor a nós mesmos. Muitas vezes
confundimos algumas coisas e levamos tudo para o lado muito espiritual e
esquecemos que existe uma parte prática que é essencial.
Não estou desvalorizando o contexto
espiritual, só gostaria que vocês tentassem olhar de uma maneira “diferente”.
Vamos usar dois exemplos: Davi matou Golias, mas antes disso já havia matado um
leão e um urso; Paulo foi um nos maiores missionários da Igreja Primitiva, mas
antes ele conheceu a geografia, a política, e a história de toda aquela região.
Conseguem perceber que tanto Davi quanto
Paulo foram potencializados por Deus em coisas que eles já possuíam alguma
experiência? Pois é, aqui está o ponto que eu quero realmente abordar. Imagine
alguém que passou a vida toda nas drogas e conseguiu ser liberto, e agora já
cristão, esse alguém talvez seja mais qualificado para evangelizar viciados do
que eu que estudei tanto, mas nunca tive a experiência de usar drogas.
O que estou querendo dizer é que
alguém que já experienciou determinadas situações, geralmente é o mais entendido
para lidar com tal assunto. Agora pense em você. O que você sabe fazer? O que
você tem de experiência? O quanto você já viveu? Quais os caminhos que você já
traçou? Pois bem, é nisso que você provavelmente será bem sucedido.
Voltando ao tema “ministério jovem”,
não espere que aconteça algo para você começar, a partida já foi dada antes de
você nascer, o quanto antes você começar, mais cedo vai conseguir conquistar. E
lembre-se, nada é desperdício na nossa vida. Até mesmo de situações em que não
vencemos, sabemos como é pela experiência de não vencer. Quando encontrarmos
alguém em situação semelhante, saberemos conversar.
Ministério é servir. E servir é
muito mais do que tocar um instrumento, ou cantar, ou cumprir uma escala
diaconal, ou participar de um programa da Igreja. Servir é demonstrar o amor de
Deus com nosso próprio exemplo de vida. É claro que através de muitas
atividades podemos servir, como tocar ou cantar, não quero que pareça que estou
desvalorizando essas coisas. Mas pense que servimos a Deus. Um Deus invisível
que nem ao menos podemos tocar.
O ser humano foi criado a imagem e
semelhança de Deus. Quando Jesus nos diz que devemos amar ao próximo, é porque
a única maneira de realmente tocarmos Deus, é servindo ao nosso próximo. E como
eu sirvo ao meu próximo? Como eu já sugeri, use tudo que você é, tudo que você
tem, tudo que você sabe, em qualquer hora, em qualquer lugar. Não espere que
você tenha cargos ou conquiste posições, seu ministério já é agora. O que você
está esperando? Vai lá! Você já sabe o que deve fazer.