terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pela janela


            Abri a janela e vi o céu grande e azul acima de uma pastagem verdejante. Olhei para o canto da janela e cliquei no ícone de conexão para entrar em outro mundo, o virtual. Depois de alguns cliques um amigo apareceu dizendo algo sobre meu nome, ou melhor, um trocadilho com meu nome e o nome da minha filha.
            “Pedro, Pedro. Todos sabem que Pedro é rocha, mas pensar em Pietra está mais para pensar em rosa. (...) Pedro tem sua dureza, mas Pietra é pétala cheia de beleza.” Nem eu escreveria melhor. Sei lá. Chorei. Coração bateu forte no peito.
            Pensei em quantas coisas poderia estar fazendo, mas escolhi estar aqui, fazendo o que quero. Não que eu esteja tão no controle de tudo assim, na verdade estou deixando a vida seguir seu curso natural. E o que poderia ser mais natural do que a essa altura da vida, ser pai?
            Outro dia não consegui dormir e a vida passou pela minha memória ressaltando momentos que marcaram minha caminhada. Pensei no quanto aqueles pássaros cantavam alto e bem cedo, e entendi que meu mundo não era esse. Senti falta do barulho das máquinas.
Passei a vida ouvindo os “coolers” que refrigeravam os processadores dos computadores, ferramentas do meu antigo trabalho de designer. Quando uma música soou agradável aos meus ouvidos era o despertador, hora de acordar. Nada mais importava. Eu sou forte, decidido, mas se ferido eu choro feito rocha.
            Preciso olhar e ver o sol verdadeiro, caminhar na areia da praia, sentir o vento no rosto e os pés no chão. Oh mundo virtual, até quando serei teu refém? Não posso ao menos fazer um download sem ter que me cadastrar? Tenho número de R.G., número de C.P.F., número de I.P., tem uma “@” (arroba) no meu sobrenome.
Ainda que esteja tatuado em meu braço um código de barras identificando meu lugar nesse mundo, sei que não sou daqui. Sou de um mundo onde algumas regras não se aplicam, a lei da gravidade é questionável, e os direitos são iguais. Opa, seria esse mundo o mundo dos sonhos? Não posso afirmar.
Meu mundo é um misto de sonhos na cabeça, desejos no coração, e os pés no chão. Sentir o aroma das flores... Hoje sou Pedro, sou rocha, mas Pietra que vem é rosa. Quando eu penso em ser pai, penso na responsabilidade de trazer alguém a este mundo que eu tanto condeno em minhas inquietações infinitas.
Critico os sistemas e tento entender as pessoas. Sei que esse mundo pode não ser o melhor, mas é o único que temos realmente neste momento. Fazer daqui um lugar melhor para nossos filhos é o melhor que podemos fazer. Fazemos um mundo com pessoas. Ao olhar pela janela quero ver o céu, quero ver você. Sem cliques, sem “pop-ups”, apenas um mundo de verdade onde eu possa te olhar nos olhos e ver mais que reflexos, quero ver coração, caminhar com os pés no chão, além da janela.