Outro dia na faculdade um aluno discutia com um professor durante a aula sobre
as relações comerciais internacionais do Brasil desde antes da formação do
Mercosul. O foco da conversa transitava entre a postura discreta e firme de
direita do professor contra o posicionamento escancarado de esquerda do aluno.
Esse assunto de direita e esquerda já me rendeu um bocado nas redes sociais
durante as últimas 5 ou 6 semanas. Acredito ser um momento oportuno para uma
análise a respeito desta temática. Numa primeira visão diríamos que a direita
está mais para o conservadorismo enquanto que a esquerda está mais para a
resistência.
Proponho para essa reflexão alguns exemplos de comportamento do próprio Jesus
mencionado nos evangelhos canonizados. A Igreja Primitiva possui algumas
características de direita quando a interpretamos pelas ações de Paulo, lembrando
que este era judeu e também romano, e o excesso de regras em seus conselhos são
discutidas até hoje como a maior relevância, até mesmo mais que os exemplos
deixados por Cristo. Já pelas ações de Pedro conseguimos enxergar uma Igreja
bastante diferente, um tanto exclusiva para um grupo seleto.
Mas vamos voltar um pouco mais. Pense em alguém mais radical do que o primo de
Jesus, o profeta João Batista, que denunciou publicamente a podridão do governo
de sua época e foi morto de uma forma injusta e violenta. Antes de Jesus temos
este último profeta e depois de Jesus temos Pedro e Paulo, os dois primeiros
grandes líderes da Igreja Primitiva. Vale lembrar que Pedro e Paulo demoraram
muito para aceitarem que estavam do mesmo lado.
Agora vejamos algumas atitudes e ações de Jesus que merecem nossa atenção
seguindo a temática sugerida. Observamos um posicionamento de direita em Jesus
quando ele procura o profeta para ser batizado, quando fala sobre o dever de
pagar os impostos, quando reconhece a importância de sua genealogia, quando
respeita as autoridades durante sua prisão, julgamento e execução. Mas também é
possível ver esse mesmo Jesus tomando atitudes um tanto esquerdistas, no
quebra-quebra que faz no templo, quando protege uma prostituta que segundo a lei
deveria morrer apedrejada, nas inúmeras discussões com os fariseus e doutores
da lei, quando cura no sábado, perdoando o ladrão ao seu lado na cruz.
Enquanto a direita esperava por um Cristo revolucionário que tomaria o trono
trazendo de volta glória ao reino, a esquerda esperava algo parecido, desde que
o judaísmo fosse exaltado e recuperada as tradições mosaicas. Mas o que Jesus
fala sobre seu reino? Que não é comida, nem bebida, mas de muita vida. Não está
pautado em valores passageiros eu se prendem a costumes e leis humanas. É um
reino que parece estar meio para a direita, outras vezes meio para a
esquerda... porque na verdade está acima.
Eu vejo um Jesus nas escrituras trilhando um caminho próprio entre os homens,
um “caminho do meio”. Nem esquerda, nem direita. E é aqui que nos perdemos
quando escolhemos um lado, pois não se trata de se filiar a um partido, mas de
seguirmos padrões e valores que estão em outras coisas. O caminho do meio é um
jogo de cintura, equilíbrio, é parecer estar do lado errado quando está no lado
certo.